sábado, 24 de novembro de 2012

Rapper Rebeld SNJ já se encontra em BH para show de solidariedade às Ocupações


Ato de protesto e I HIP HOP OCUPA - Duelo de MCs acontecem neste domingo, a partir de 13h.

O Rapper Rebeld SNJ chegou à Belo Horizonte nesta sexta-feira, dia 23. Foi recebido por representantes do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e favelas (MLB). O rapper participou de um show debaixo do Viaduto de Santa Tereza, tradicional ponto de encontro do movimento hip hop de BH, onde fez uma apresentação para o público presente.

Durante o show Rebeld SNJ levantou a bandeira do MLB como forma de protesto à política de moradia existente e também para dar solidariedade e apoio às ocupações em luta em BH. Neste sábado, o rapper visitará as comunidades Eliana Silva, Camilo Torres e Irmã Dorothy, fará contatos com várias lideranças dos movimentos populares e observará as locações para produção de clip para o lançamento de seu novo trabalho, que deverá ser ambientado na Ocupação Eliana Silva.

Enquanto isso, os moradores da comunidade Eliana Silva trabalham nos preparativos finais do show que acontece neste domingo, às 13h.

Além de Rebeld SNJ, teremos Duelo de MC's - Família de Rua, CDR Trincaments, Douglas Din, Inti e Thaik, Kdu dos Anjos, C.A.O.S., Nil Rec.

PROGRAMAÇÃO DE DOMINGO – 25 DE NOVEMBRO
13h – Abraço às Comunidades Camilo Torres, Irmã Dorothy e Eliana Silva
Após o abraço – I HIP HOP OCUPA - Duelo de MCs – com a participação de rappers em solidariedade à luta pela moradia popular

Local: Bairro Santa Rita, Vale do Jatobá, região do Barreiro
Como chegar: Pegar linha 30 no Centro (Av. Amazonas ou Av. Paraná, descer na Estação Diamante, na Estação pegar a linha 309 (Petrópolis) e descer no Bairro Santa Rita. A Comunidade Eliana Silva fica na Av. Perimetral)

Obs: sairá transporte da Praça da Estação até o Barreiro, no Centro, às 11h. O custo é de R$ 5,00 ida e volta. O transporte retorna para o Centro às 18h.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Transportes para Abraço às Ocupações saem da Praça da Estação no dia 25 de novembro

O MOVIMENTO FORA LACERDA disponibiliza transporte para as pessoas que estiverem interessadas em participar das atividades organizadas em Solidariedade às Ocupações Eliana Silva, Camilo Torres e Irmã Dorothy, localizadas na região do bairro Santa Rita, no Barreiro.

A mobilização visa levar o maior número de pessoas para as atividades que ocorrerão no local: um
Ato Político Abraço às Ocupações em solidariedade à essas Comunidades que lutam contra o despejo que estão sendo preparados pelo Prefeito Márcio Lacerda.

Outra ação política que ocorre é cultural. O HIP HOP vai ocupar a Comunidade Eliana Silva à partir de 13h, com shows de inúmeros happers, vindos, inclusive, de outros estados.

As pessoas interessadas para deslocar-se nos dois ônibus disponibilizados pelo Movimento Fora Lacerda. É importante que os interessados sejam ágeis, já que as quantidade é limitada. Para se inscrever é necessária acessar a página  http://fora_wp.falasocial.com/

Os ônibus saem da Praça da Estação, às 11:30h em ponto e retornam às 18h.

Estamos de braços abertos!

Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas - MLB



segunda-feira, 12 de novembro de 2012

HIP HOP OCUPA ELIANA SILVA! ELIANA SILVA OCUPA BH!


Dia 25 de Novembro o Hip Hop vai Ocupar a comunidade Eliana Silva com os elementos de uma cultura de resistencia! Convidamos você a fazer parte dessa festa e apoiar a luta por Reforma Urbana e moradia digna!
A festa conta com:

* Duelo d
e MC's - Familia de Rua 

* REBELD SNJ (SP)

* CDR Tricament's

Pocket shows:

* Nil Rec (lançando o CD "Convertendo o pensamento em áudio)

* C.A.O.S. (Fabricio FBC + HotApocalypse + Well + CoyoteBeatz)

* Douglas Din

* Kdu dos Anjos

* Thaik e Inti


COMPAREÇA!!!

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Bazar Solidário – Construindo o Bairro Eliana Silva!

Bazar Solidário – Construindo o Bairro Eliana Silva!
A rede de solidariedade á ocupação Eliana Silva, mais uma vez se mobiliza e organiza um importante evento para auxiliar na construção desta comunidade, e fortalecer a resistência desses trabalhadores de lutam dia após dia para garantir o direito á moradia digna.
Será realizado nos dias 14 e 16 de novembro uma bazar solidário. A renda obtida será doada á ocupação Eliana Silva para auxiliar na compra de material de construção, pois esta demanda é primordial no momento. Já são quase 200 construções de alvenaria, e quanto maior for a estrutura da ocupação mais difícil é o despejo, e mais rápido se alcança o objetivo da estruturação de um novo bairro. Um bairro popular, construído com a garra, a força, o trabalho, a força de vontade e principalmente a coletividade dos moradores.
No dia 14/11 o bazar acontecerá na escola de Belas Artes da UFMG e no dia 16/11 na escola de Arquitetura.
Hoje 09/11, sexta feira, acontecerá o 5º Doações Eliana Silva, no Bar do Louro – Edifício Maleta, com o enfoque de arrecadação de mais roupas para aprimorar o bazar.
Participe, ajude a aumentar nossa rede, e a lutar de maneira efetiva pelo direito á moradia digna!
SOMOS TODOS ELIANA SILVA – NOSSO SONHO RESISTE!!!

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Quando o sonho vira realidade


A ocupação Eliana Silva caminha para completar três meses e vem sendo contruída com muito trabalho e união. São mais de 200 barracos de alvenaria que foram contruídos e com eles, um clima de otimismo e fé vem dando o tom da ocupação. “Nossa meta é transformar a ocupação em um bairro e vamos provar que isso é possível, queremos contruir o centro ecumênico, ter ligação oficial da luz, da água, rede de esgoto e iniciar o projeto da área de lazer” disse Poliana Souza, 25 anos, mãe de uma filha e membro da coordenação da ocupação.
Incentivados pela coordenação, boa parte das casas de alvenaria estão sendo contruídas através dos mutirões, os moradores se juntam em grupos e vão levantando as moradias. Os avanços podem ser registrados através das falas dos moradores: “Espero que no futuro meus filhos possam estudar, espero minha vida possa mudar, agora tenho endereço fixo, comecei a trabalhar e estou juntando dinheiro para melhorar minha construção”. Cristina Lima, 22 anos, mãe de 2 filhos e moradora da ocupação. “Eu vim pra cá porque morava de favor na casa de filho e eu não pretendo depender de filho para toda vida. Depois que separei do meu marido, ele vendeu a casa e fiquei anos morando de favor. Agora estou ocupando meu tempo. Graças a Deus, não tenho nada que reclamar da ocupação. Espero construir minha casa e ficar quetinha aqui dentro. Espero que esse povo (prefeitura e polícia) não venham mexer com a gente aqui” Disse, Dona Cassilda dos Anjos, 57 anos, moradora da ocupação.
Apesar dos problemas, dificuldades inclusive resultantes da omissão da prefeitura, governo do estado e federal, a ocupação avança e se desenvolve.

Apoios e vitórias
Muitos avanços acontecem na ocupação. Na questão jurídica, houve uma vitória em primeira e segunda instância, onde o agravo que foi interposto por um dito dono de parte do terreno, foi indeferido pela justiça. Apesar de mais essa vitória parcial, a ocupação ainda corre riscos, pois ainda há a possibilidade de despejo, uma vez que esta ocupação é uma ação que mostra diretamente os problemas enfrentados pela sociedade e que o povo organizado tem condições para resolver. O interesse de que não exista mais Eliana Silva não é meramente judicial, senão um reflexo do plano que o governo tem para a população, de que esta continue sendo explorada e sem condições dignas de moradia.
Exemplos da capacidade popular de resolução de problemas são cotidianos nesta ocupação:
Uma horta comunitária está sendo organizada e o adubo está sendo feito a partir dos restos de comida e de outros materiais orgânicos.
A creche está ganhando apoios importantes. Um projeto pedagógico está sendo organizado, com apoio de um núcleo de educação formado por professores e estudantes da Faculdade de Educação da UFMG e demais apoiadores de outras instituições e entidades.
No dia 14 de outubro, a rede de solidariedade realizou a comemoração do dia das crianças. Foram feitas muitas brincadeiras, oficinas e distribuição de centenas de brinquedos. O dia foi encerrado com a exibição o filme “Formiguinhaz”.
Os fins de semana são ocupados com atividades esportivas e culturais. Os times de futebol masculino, feminino e infantil já estão formados e iniciando seus treinos.
O MLB, em parceria com a Associação Cultural e Social de Capoeira Santa Rita que tem como coordenador o grande capoeirista, Mestre Tito, fecharam um convênio que oferece aulas de capoeira gratuita aos moradores todas as sextas e sábados.
Além disso, um grupo de Chorinho irá se apresentar no dia 04 de novembro na ocupação e o coletivo Família de Rua, responsável pelo renomado Duelo de MC's, que já ganhou expressão nacional, irão promover o duelo dentro da ocupação no dia 25 de novembro.

Publicado originalmente no Jornal A Verdade

sábado, 3 de novembro de 2012

SOMOS TODAS E TODOS CAMILO TORRES, IRMÃ DOROTHY E ELIANA SILVA!


RESISTÊNCIA, SIM! DESPEJO, NÃO!Belo Horizonte, outubro/novembro de 2012

Nós, do Fórum Permanente de Solidariedade às Ocupações de Belo Horizonte, manifestamos total apoio e solidariedade às 470 famílias das comunidades Camilo Torres, Irmã Dorothy e Eliana Silva que, para realizarem o direito humano à moradia, ocupam terrenos públicos no Barreiro – a maioria delas há mais de 4 anos.  Há vinte anos, tais terrenos foram transferidos de modo irregular e ilegal a particulares. Estes, como se não bastasse, os mantiveram abandonados desde então, o que representa não cumprimento de sua função social.
Os terrenos pertenciam à Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (CODEMIG, ex-Companhia de Distritos Industriais – CDI) que os repassou a particulares por valores muito abaixo dos valores de mercado. A contrapartida seria a implementação de atividades industriais em até vinte e quatro meses. Nos duzentos meses subseqüentes, nada foi construído. Além disso, os terrenos foram repassados – sempre irregularmente - a outras empresas, configurando a mais escrachada especulação imobiliária. Estes terrenos têm sido objeto de transação ilegal entre o governo de Minas Gerais, a Prefeitura de Belo Horizonte, a Victor Pneus, a  TraMM Locação de Equipamentos Ltda e os Bancos Bradesco e Rural. Destacamos que o Banco Rural é réu já condenado pelo Supremo Tribunal Federal no “escândalo do mensalão”.
Os partidos que estão em conluio com as empresas que se apropriaram ilegalmente dos terrenos são os mesmos que, em São José dos Campos/SP, patrocinaram o despejo de Pinheirinho, em janeiro de 2012. Nesta ocasião, 1600 famílias foram massacradas e tiveram suas casas destruídas após oito anos de ocupação de terreno grilado pelo mega-especulador Naji Nahas. Estes mesmos interesses são representados em Minas Gerais pelo prefeito Márcio Lacerda (PSB), o ex-governador Aécio Neves e o atual Antonio Anastasia, ambos do PSDB. À jogatina com terrenos públicos, soma-se a podre jogatina da política profissional.
Há perigo de desocupação iminente a ser realizada pela Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), o que acarretaria em banho de sangue. Sabemos que a PMMG atua, nesta situação, como um exército no campo de batalha cujo objetivo é eliminar os inimigos. Aqueles que são considerados inimigos pela PM, nesse caso, são as 470 famílias pobres que têm resistido bravamente às investidas da propriedade privada e do capital. São cidadãos e cidadãs de todas as idades que construíram suas casas com as próprias mãos, preservam o espaço onde moram e imprimiram a mais legítima função social aos terrenos ocupados: o direito à moradia decente e à existência digna. Lembremos do despejo da Eliana Silva 1 (maio/2012) e da tentativa de despejo da Zilah Spósito-Helena Greco (outubro/2011) onde a PM, fortemente armada, usou desde gás de pimenta contra crianças asmáticas e idosos até caveirão, cachorros, cavalos e helicópteros contra todas e todos os membros destas comunidades.
Tampouco toleramos as investidas da PMMG contra nosso companheiro Frei Gilvander Moreira, que tem sido permanentemente fustigado com telefonemas, ameaças e “visitas” noturnas. Sabemos que estas perseguições são devidas à sua combatividade na luta pelo direito à moradia e à terra para quem nela trabalha.
O Fórum Permanente de Solidariedade às Ocupações de Belo Horizonte definitivamente não aceita o despejo e defende o direito inalienável à resistência contra todas essas investidas. Exigimos esclarecimento e responsabilização dos envolvidos nessas transações inescrupulosas. Cobramos a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa de Minas Gerais para acabar com a farra da especulação imobiliária, equacionar a titularidade desses terrenos, responsabilizar e punir os envolvidos nas transações ilegais e, sobretudo, garantir a permanência das comunidades Camilo Torres, Irmã Dorothy e Eliana Silva nos espaços ocupados.
Reiteramos que não admitimos o despejo sob hipótese alguma. Continuaremos a combater, junto com as comunidades Camilo Torres, Irmã Dorothy, Eliana Silva, Dandara e Zilah Sposito-Helena Greco, o projeto segregacionista dos governos municipal, estadual e federal de higienização da cidade e privatização do espaço público.
Lutamos por uma cidade que incorpore as necessidades, as lutas e as conquistas da classe trabalhadora.

Fórum Permanente de Solidariedade às Ocupações de Belo Horizonte / FPSO-BH

"INDIOS" - LEGIÃO URBANA


Quem me dera ao menos uma vez
Ter de volta todo o ouro que entreguei a quem
Conseguiu me convencer que era prova de amizade
Se alguém levasse embora até o que eu não tinha.
Quem me dera ao menos uma vez
Esquecer que acreditei que era por brincadeira
Que se cortava sempre um pano-de-chão
De linho nobre e pura seda.
Quem me dera ao menos uma vez
Explicar o que ninguém consegue entender
Que o que aconteceu ainda está por vir
E o futuro não é mais como era antigamente.
Quem me dera ao menos uma vez
Provar que quem tem mais do que precisa ter
Quase sempre se convence que não tem o bastante
Fala demais por não ter nada a dizer.
Quem me dera ao menos uma vez
Que o mais simples fosse visto
Como o mais importante
Mas nos deram espelhos e vimos um mundo doente.
Quem me dera ao menos uma vez
Entender como um só Deus ao mesmo tempo é três
E esse mesmo Deus foi morto por vocês
Sua maldade, então, deixaram Deus tão triste.
Eu quis o perigo e até sangrei sozinho
Entenda
Assim pude trazer você de volta pra mim
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do iní­cio ao fim.
E é só você que tem a cura pro meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.
Quem me dera ao menos uma vez
Acreditar por um instante em tudo que existe
E acreditar que o mundo é perfeito
E que todas as pessoas são felizes.
Quem me dera ao menos uma vez
Fazer com que o mundo saiba que seu nome
Está em tudo e mesmo assim
Ninguém lhe diz ao menos, obrigado.
Quem me dera ao menos uma vez
Como a mais bela tribo
Dos mais belos índios
Não ser atacado por ser inocente.
Eu quis o perigo e até sangrei sozinho
Entenda
Assim pude trazer você de volta pra mim
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do início ao fim.
E é só você que tem a cura pro meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.
Nos deram espelhos e vimos um mundo doente
Tentei chorar e não consegui.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Frei Gilvander: um defensor dos pobres que incomoda os poderosos


Gilvander Luís Moreira é frade carmelita, professor de teologia bíblica. Desde 1985 atua como assessor da Comissão Pastoral da Terra (CPT), das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (Cebi) e da Via Campesina. Há dois anos é membro do Conselho Estadual dos Direitos Humanos de Minas Gerais (Conedh).  É um dos religiosos mais ativos na defesa e participação junto aos movimentos populares. Por isso, sofre diversas ameaças de morte, mas segue firme na luta. Muitos dos seus instigantes textos e vídeos podem ser acessados no sítio  www.gilvander.org.br - facebook: Gilvander Moreira – e-mail: gilvander@igrejadocarmo.com.br
A Verdade –Fale-nos um pouco sobre a luta pelos Direitos Humanos e sobre a Comissão da Verdade
Frei Gilvander – A presidente Dilma Rousseff, atendendo a um grande clamor do povo organizado, instalou a Comissão da Verdade em maio, para que em dois anos se apurem as violações dos direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988, período que inclui a ditadura militar-civil-empresarial. Essa comissão investigará pelas brechas já abertas pelo movimento contra a tortura, que quer passar a limpo os horrores cometidos nos anos de chumbo. Mas uma comissão oficial jamais conseguirá o que precisamos: apurar, de fato, a verdade que liberta, aquela que precisa revelar quem torturou e matou e quem mandou torturar e matar. Para isso será indispensável que o movimento de luta pelos Direitos Humanos, nas suas mais diversas especificidades, organize e dissemine Comissões da Verdade e Justiça independentes do governo e dos militares. Precisamos não apenas de sete, mas de “setenta vezes sete” pessoas integrando comissões locais e regionais. Não poderemos descansar enquanto não punirmos todos os ditadores e seus vassalos e enquanto não conquistarmos a abertura dos arquivos da ditadura. Em vários países DA América Latina, muitos generais já foram julgados e estão detrás das grades. Perdoar ditadores e torturadores é ser cúmplice da perpetuação da tortura.
Como avalia a situação de moradia nas grandes cidades brasileiras?
Desde Collor, passando por FHC e Lula, a política econômica do governo federal tem feito opção pelo capital e seus adeptos banqueiros, empresários e latifundiários. O PAC é, na prática, plano de aceleração do crescimento das empresas, não do povo. As grandes obras, faraônicas por sinal, tais como a transposição do rio São Francisco, usinas e barragens de Jirau, Santo Antônio (em Rondônia) e Belo Monte (no Pará), ferrovias – a Transnordestina –, construção e/ou reforma de portos e aeroportos, 12 estádios etc. promovem crescimento econômico para um pequeno grupo de grandes empresas, a maioria delas transnacionais. Isso fomenta a especulação imobiliária nas cidades. Com isso, ficam à míngua – quase sem orçamento – as áreas sociais da saúde, educação, habitação, reforma agrária e outros direitos humanos. Assim, os empobrecidos estão sendo, de forma sorrateira, lentamente expulsos para as periferias das regiões metropolitanas. Isso é progresso para uma minoria e desgraça para a maioria. O Deus da vida abomina essa política econômica neoliberal que impõe uma ditadura econômica sobre o povo. Inclusão pelo consumo é enganação. As pessoas não têm só estômago e barriga. A gente quer é vida com dignidade, o que passa por reformas agrária e urbana (que é algo muito diferente de urbanização de favelas).
Os movimentos populares que fazem ocupações rurais e urbanas são tratados como criminosos. Qual sua avaliação sobre as ocupações?
As condições de vida real do povo não estão coloridas como aparecem na propaganda dos partidos políticos e na grande imprensa. Infelizmente, a injustiça social e ambiental está crescendo e a classe trabalhadora, cada vez mais marginalizada, não está tolerando mais a corda no pescoço. Como uma panela de pressão no fogo, nas entranhas da vida social há efervescência e ebulição. O povo organizado conseguiu inscrever na Constituição de 1988 que toda propriedade deve cumprir sua função social. Para isso é preciso ser simultaneamente produtiva, respeitar o meio ambiente, ter relações trabalhistas justas e partilhar sua produtividade. Descumprindo a função social, perde o proprietário o critério objetivo inerente à propriedade, que é o direito de posse. Portanto, um imóvel que não cumpre a função social está vazio e deve, sim, ser ocupado. Ninguém tem a posse de uma área vazia, e, como consequência lógica, não pode o Poder Judiciário, baseado somente no registro, dar as garantias da ação possessória. Quem é o invasor é aquele que se diz proprietário sem legitimidade. Em um país campeão em concentração fundiária e com grandes propriedades sem cumprir sua função social, ocupar é um direito e um dever. Ai dos pobres que não se unem e não se organizam para ocupar os terrenos abandonados. Morrerão aos poucos. Parabéns ao povo das ocupações que está  lutando por emancipação humana a partir da conquista da terra.
Quais as ameaças que você vem sofrendo?
Já fui ameaçado de morte (e de ressurreição) muitas vezes. É só os conflitos se acirrarem e a luta de classe acontecer, que as ameaças surgem. Logo após o covarde e truculento despejo da Ocupação Eliana Silva, do MLB, em Belo Horizonte, nos dias 11 e 12 de maio último, quatro homens foram vistos no portão da minha casa, num horário em que eu deveria chegar, mas quem chegou foram outros dois frades. De 22 de junho último até o dia 14 de julho, recebi no meu celular oito ameaças. Um ameaçador ligando de telefone público e dizendo “Padreco, sua batata queimou. Some de Belo Horizonte enquanto é tempo.” Depois: “Você ainda está em Belo Horizonte? Se prepare!” Coisas desse tipo. Sei muito bem que acompanhar as ocupações rurais do MST em Minas Gerais e as ocupações urbanas em Belo Horizonte, Itabira, Timóteo e Uberlândia, denunciar as injustiças sociais e ambientais, cobrar direitos humanos dos presos e dos homossexuais, tudo isso consola quem está na aflição, mas incomoda quem está gozando as benesses do capitalismo. Mas continuaremos lutando até o dia em que construirmos uma sociedade justa, solidária, ecumênica e ecologicamente sustentável. Ai de nós se nos calarmos diante de tantas violências perpetradas contra os pobres! O Deus da vida conta conosco nessa empreitada de luta por vida e liberdade para todos e tudo.
Qual a sua avaliação sobre a Ocupação Eliana Silva?
As 350 famílias sem-terra e sem-casa da Ocupação Eliana Silva se organizaram durante meses buscando se libertar da cruz do aluguel, que come no prato do pobre, que é veneno para quem ganha só salário mínimo. Na madrugada do dia 21 de abril passado, elas ocuparam um terreno abandonado há mais de 40 anos. O MLB coordenou a Ocupação Eliana Silva com idoneidade, com participação ativa e paixão em defesa dos pobres. Durante três semanas, a comunidade se construía. Mas o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, exigiu, na justiça, reintegração de posse, mesmo sem comprovar ter a posse do terreno. O Judiciário – defensor do privilégio que é a propriedade só para alguns – mandou despejar Eliana. Sem avisar, chegaram mais de 400 policiais da Polícia Militar de Minas Gerais: tropa de choque, Gate e outros pelotões da PM, inclusive com caveirão, um tanque de guerra. A Ocupação Eliana Silva resistiu 36 horas, inclusive dormindo ao relento depois de ter suas barracas destruídas. O povo foi despejado, mas não baixou a cabeça. Está se organizando para um novo embate. A luta vai continuar até depois que todos conquistem terra e moradia digna. O povo da Eliana Silva está de parabéns pela firmeza, organização e ousadia com que está lutando. Não foram em vão o choro das crianças e toda a dor perpetrada pelo Estado. Vamos transformar a Sexta-feira da Paixão que fizeram com a Ocupação Eliana Silva em um Domingo da Ressurreição.
Na sua visão, quais as perspectivas para o movimento popular?
Infelizmente, a crise plural que nos envolve se agravará, pois o dragão, que é o capitalismo, ainda soltará muito fogo sobre os empobrecidos e sobre a biodiversidade. A crise econômica europeia está chegando ao Brasil. As massas estão sendo seduzidas pelo canto da sereia da inclusão pelo consumo. A dívida externa foi internalizada. Com isso, a dívida pública que o Estado brasileiro tem para com 20 mil banqueiros é quase impagável. É uma tremenda injustiça deixar de investir 250 bilhões de reais nas áreas sociais para repassar a banqueiros credores da dívida pública. Estima-se que, em paraísos fiscais, Maluf e muitos outros magnatas brasileiros já esconderam mais de 520 bilhões de reais. As massas vão sentir cada vez mais as consequências do endividamento, a intensificação do trabalho, arrocho salarial e as agruras de morar cada vez mais distante dos centros das cidades. Nesse contexto, felizes os empobrecidos que se unem, se organizam e, de cabeça erguida, partem para a luta. Sonho com o dia em que todos os movimentos populares do campo e das periferias das cidades deem as mãos e, em lutas conjuntas, possam sacudir o edifício do capitalismo, que está podre e deve ser derrubado o quanto antes. O que move o mundo, no mais profundo, não são as armas, mas os sonhos libertários. Sonhemos acordados, de mãos dadas na luta. É preciso acreditar na força da microcomunicação através dos jornais populares, rádios populares, internet – e-mails, Facebook, Twitter, blogs, sítios etc. Cada militante deve adquirir o hábito de colecionar endereços eletrônicos e, assim, ampliar seus braços, sua voz e seu corpo. A luta faz nascer e crescer a esperança. Só perde quem não entra na luta ou quem desiste da luta. Lutar até depois da vitória, eis a nossa tarefa que deve ser abraçada por amor, por paixão.
Leonardo Pericles, Belo Horizonte
Fonte: Jornal A Verdade - www.averdade.org.br