O Ministério Público de São Paulo investiga se a série de incêndios
ocorridos desde janeiro deste ano em favelas da capital paulista tem relação
com o interesse do setor privado ou do setor público em construir nas áreas de
entorno dessas comunidades.
Até agora, segundo a Defesa Civil municipal, foram 31 casos na cidade
--15, desde julho. O número é 30% superior ao de todo o ano de 2011, quando 24
incêndios foram registrados. Os números dos bombeiros são maiores: segundo
a corporação, a capital registrou 32 incêndios até o começo de setembro de
2012, ante 79 ocorrências durante o ano de 2011. Os bombeiros, no entanto,
contabilizam também pequenas ocorrências e comunidades com qualquer número de
domicílios.
Em entrevista ao UOL, o promotor de
Habitação e Urbanismo da capital, José Carlos de Freitas, afirmou que, “com ou
sem incêndio”, a leitura da Promotoria para os casos remete a obras públicas ou
interesse do mercado imobiliário.
Incêndios em favelas de São Paulo em 2012
“Chama atenção que os incêndios vêm acontecendo de uns bons anos para
cá, e a contagem deles aumentou neste ano”, disse. “Não podemos afirmar que
exista uma atitude orquestrada por trás disso, mas é muito preocupante que
esses incêndios aconteçam principalmente quando temos obras públicas ou áreas
nas quais o mercado imobiliário tem um interesse enorme de produzir habitação à
população de alta renda”, completou.
De acordo com o promotor, os procedimentos cíveis e criminais
instaurados pelo MP, além de ações civis públicas já propostas nos últimos
meses, apuram ainda para onde os moradores removidos em operações urbanas da
Prefeitura de São Paulo, ou por conta dos incêndios, foram encaminhados.
“Temos visto que, quando esses moradores saem das áreas atingidas, eles
não retornam para sua localidade e não há ações do poder público para garantir
que residam onde estavam residindo –que é onde essas pessoas não só moravam
como também trabalhavam ou tinham filhos em creches ou escolas, por exemplo”,
definiu o promotor. “A exceção muito grande a essa regra é o que acontece com o
Jardim Edith: ali, a construção de habitação popular dentro da operação Água
Espraiada só foi adiante porque existe ação da Defensoria Pública
acompanhada pelo MP."
Freitas é o responsável pelo inquérito civil do MP que apura o incêndio
ocorrido na última segunda-feira (3) na comunidade do Jardim Sônia Ribeiro,
conhecida como “Favela do Piolho”, no Campo Belo (zona sul). Na última nesta
quarta-feira (5), ele requereu esclarecimentos da prefeitura e do governo
estadual sobre as ações “de ordem habitacional, assistencial, de educação e
saúde no que diz respeito a essas famílias”. A estimativa é que ao menos 1.400
pessoas tenham ficado desalojadas só nessa favela.
Urbanistas contestam hipótese de “gatos”
Arquitetos urbanistas ouvidos pela reportagem também disseram estranhar
a versão oficial de que a maior parte dos incêndios em favelas paulistanas diz
respeito ao tempo seco e a ligações elétricas irregulares, os chamados “gatos”.
Foi essa a versão fornecida, por exemplo, pela Secretaria de Segurança Pública
de São Paulo (SSP-SP) e pela Defesa Civil municipal quando questionadas sobre
as principais causas dos incêndios.
Fonte: UOL
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